A experiência extática do espírito

O Espírito, apesar de muito semelhante à alma, com esta não se confunde. A alma (hebraico: nephesh; grego: psyche; latim: anima) é o que mantém o corpo vivente, o princípio interior que faz a pessoa possuir determinadas características subjetivas. É indicativa de individualidade vital. Por isso, quando separada do corpo, pela morte, fica incompleta até reencontrar-se com o seu primitivo corpo (segundo Aristóteles). Por outro lado, para Platão, ao contrário, porque a alma pertence ao reino das formas puras, depois da morte, pode circular livremente no mundo substancial das essências.

Já o espírito é um revestimento, algo que vem de fora, manifestando-se de formas inusitadas e surpreendentes. O Espírito (hebraico: ruach; grego: pneuma; latim: spiritus), como nos diz a Bíblia, sopra onde quer. Isto apenas reflete a sua autonomia e a sua índole de irrupção insólita e extraordinária. Ora, isto tem causado certas dificuldades para que se consiga distinguir quando uma manifestação espiritual é autêntica ou apenas representa uma farsa.

O Espírito se relaciona com os seres humanos sob a forma de infusão ou derramamento, metáforas místicas empregadas para significar a abundância da graça. Dessa forma as pessoas ficam cheias do Espírito, quando então passam a se sentir inspiradas: tornam-se a habitação do Espírito, que as possuem e as guardam.

Os frutos da experiência extática do Espírito são inúmeros, que S. Paulo os resume como sendo o dom da fé, da cura, o dom dos milagres, de profetizar, de discernir os espíritos, falar línguas, interpretar, capacidades que são concedidas, alternada ou simultaneamente a cada um, segundo o mesmo Espírito (1Cor 12: 1-11).

Não obstante, a principal manifestação extática do Espírito é a fé, através da qual o crente se sente capacitado a reconhecer Cristo como o Senhor (1Cor 12: 3). Do mesmo modo, Paulo nos afirma que a síntese de todos os dons é a caridade, pois ninguém pode-se dizer tomado pelo Espírito se não ama o seu semelhante (1Cor 13: 1). Só isto é critério seguro para afastar manifestações falsas de espiritualidade extática, que freqüentemente possuem características incoerentes (Cfr O Espírito Santo, de Edward Schweizer. S.P. Ed Loyola,l993).

Isto acontece em virtude de que há três planos distintos pelos quais o Espírito se manifesta em nós: vindo do alto (verticalidade),por concessão de pura gratuidade; disseminado no convívio entre os irmãos (horizontalidade), pelo dom da graça a serviço dos outros; e finalmente, pelos seus efeitos, nos quais “Deus realiza tudo em todos”(transversalidade): 1Cor 12:4-6.

Dessa forma, fica demonstrado que não há dons carismáticos mais sobrenaturais que outros, pois todos atuam como um organismo, mutuamente se estimulando na manifestação e na glória de Deus:

“E os que Deus dispôs na Igreja são, primeiro apóstolos, segundo profetas, terceiro homens encarregados do ensino; vem a seguir o dom dos milagres, depois o da cura, o da assistência, o da direção e o dom de falar em línguas. Acaso são todos apóstolos? Todos profetas? Todos ensinam? Todos fazem milagres? Todos têm o dom da cura? Todos falam em línguas? Todos interpretam? Procurai os melhores dons e eu vos indicarei um caminho infinitamente superior” (1Cor 12: 28-30)