A espiritualidade ínsita no Cosmos

Segundo os cientistas atuais, o Universo, em sua essência, tem que ter um substrato espiritual, como condição para que pudesse se organizar e evoluir, pois é constituído, em sua realidade última, de forças contraditórias bastante excludentes, não fosse ele a manifestação divina que, em si mesma, é o milagre do habitat natural do Criador, presente velada ou explicitamente em tudo que acontece.

Semelhante ao que ocorre no Universo, nossa espiritualidade, vivida em maior ou menor intensidade, se assemelha à natureza oscilante das cordas microscópicas que vibram constantemente no mundo sub-atômico, denunciando o milagre da presença de um Maestro que permite a transformação do caos em cosmos. É dessa forma também que nossa espiritualidade se assemelha a uma sinfonia, com tons intensos de dúvida e afirmação.

Como diz o aforismo esotérico ‘tudo o que está em baixo reflete o que está em cima’, assim, no microcosmo, o Universo não se diferencia do macro, guardando as mesmas características de sua origem, cabendo a nós, pela capacidade de nossa inteligência, identificar os momentos privilegiados da manifestação dessas vibrações virtuais de espiritualidade, testemunhas da presença do Espírito entre nós:

Em princípio, há as oscilações da luz, que dão origem à energia e às cores que encantam nossas vistas. Não fosse a energia das estrelas, não teríamos nem calor e tampouco a vida. Na tradição antiga, Deus está identificado com uma luz que ninguém consegue ver, mas que se apresenta como condição do próprio surgimento de tudo: ‘Eu sou o Senhor, não existe outro; eu modelo a luz e crio as trevas, eu faço a felicidade e crio a desgraça; sou eu, o Senhor, que faço tudo isso’  (Isaias 45:6,7).

Por outro lado, as vibrações dos sons são os efeitos do milagre criativo, a melodia das esferas em suas evoluções. Deus, para criar usou de palavras que ecoam pela eternidade. O Espírito gosta de falar e é necessário que estejamos sempre atentos às suas mensagens de harmonia, consolo e amor: ’No princípio era a Palavra, e a Palavra se encarnou; e vimos Sua glória cujo amor nos libertou!’

Em complemento, as percepções da beleza, das simetrias, insertas em todos os lugares, sejam paisagens ou formas, refletem a estética do Espírito que é a fonte primordial de todas as aparências. Como nos afirma Plotino: ‘Do Divino vem toda a beleza e todo o bem que há nos seres. O Bem Primordial e a Beleza Primordial residem no mesmo lugar e, assim, Essa é a sede da Beleza’.

As consistências éticas de nossa compostura representam o apelo que o bem exerce como força atrativa para os nossos atos, superando os determinismos naturais. Por outro lado, só o ser humano é capaz de confundir o bem com os males que pratica, em consequência de sua maldade e egoísmo. Saber captar o bem em todas as coisas é uma vibração espiritual, fruto da presença do Espírito em nosso coração. Em conclusão, há uma sintonia entre a espiritualidade cósmica e aquela sentida em nossa experiência corriqueira.