A dialética da fé

TESE: Tudo é muito incerto

Há um fato fundamental a ser reconhecido no transcorrer de nossas vidas e é aquele referente às incertezas que rondam nossos destinos. Ora, tal constatação tem sido objeto de muitas formas de interpretação, das quais podemos destacar duas: a consideração de que tais fatos são resultantes da própria fortuidade do suceder temporal, como puro acaso (antítese); ou, por outro lado, podemos considerar as variadas ocorrências de nossa vida como guiadas por um sentido superior, transcendente (síntese).

ANTÍTESE: As incertezas renegam nossas esperanças

Podemos verificar, por força dos diversos fenômenos aleatórios que nos cercam, a tendência a minimizar a importância transcendente que envolve cada acontecimento de nossa vida, tirando seu valor intrínseco e sua singularidade. Ora, tal atitude tem sido trágica e infeliz para a humanidade, que não tendo nenhuma esperança, vê-se a mercê de sempre tristes decepções!

Em acréscimo, somos comumente conduzidos a pensar que o Universo é indiferente às nossas vidas, o que realmente é um engano, bastando pensarmos na urdidura dos antecedentes (só aparentemente aleatórios) que prepararam esta nossa entrada no mundo da vida. Dessa forma, dentro do próprio espírito que a superação dialética nos sugere, fica-nos a concepção de uma síntese que reintegre as aparentes contradições entre meu eu, meu universo e minha crença.

SÍNTESE: A fé é instrumento valioso na superação das incertezas

Na continuidade, mesmo consciente dos paradoxos encontrados entre os três paradigmas (eu, o universo e minhas crenças), o atual estágio de nossos conhecimentos nos concede uma abertura ao reconhecimento, ainda racional, de que estamos cercados de mistérios por todos os lados, dando assim oportunidade para que não deixemos de considerar a fé como uma atitude coerente com nossa condição existencial, patética, mas até provocativa a novas esperanças.

Assim, as respostas que nossa razão não encontra só alcançarão seu verdadeiro significado se forem assumidas pela crença de que existe uma coerência final para tudo o que existe, num plano que não é natural, mas sobrenatural (meu reino não é deste mundo, disse Cristo). É assim que a religião não é uma teoria, um logos, mas é uma vivência mística, como a contemplação de algo insondável, cuja fonte se encontra em minha própria subjetividade.

Dessa forma, minha fé, além de ser uma experiência mística, é também uma atitude de perspectiva e ação, a fim de que possa refluir constantemente na concretização dos princípios que a norteiam: a regra de ouro, a caridade, as ações pela paz e nossa fidelidade ao amor.