A ciência e a sintonia fina da espiritualidade

Sabemos que o Universo só tem sentido para o ser humano, que é dotado de um poder de conhecimento pela sua inteligência, algo aparentemente estranho ao mundo da matéria ou estofo físico que forma todas as coisas. Não obstante, por um estranho paradoxo, nossa inteligência provém de nosso corpo que, por sua vez, depende do mundo material (sic!). Ora, o surgimento de algo tão diferente e em oposição ao mundo físico constitui uma transformação quântica das forças da Natureza, ou como um milagre de algo insuflado pelo Criador, conforme reza a tradição religiosa.

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Chamamos de espiritualidade a esta capacidade simbólica e virtual de percepção, que só tem lugar no Universo pelas condições de nossa inteligência em percebê-los, enquanto estamos vivos, o que faz dos seres humanos vítimas das frustrações que eles mesmos criam e observam, em função desta sua capacidade mental, ‘ser das lonjuras’, como diria HEIDEGGER. Ora, tudo isso contrapõe as esperanças da humanidade em querer superar suas deficiências, fazendo do ser humano um projeto inútil, como diria SARTRE, se nós mesmos não criarmos uma forma de compatibilizar nossas  demandas espirituais com a realidade rude que nos cerca. Aqui, só uma crença pode nos confortar uma resposta!

Estamos então agora sob o desafio de pensar se esta oposição aparente entre o Universo e nossa experiência espiritual não é apenas uma incapacidade epistemológica, ou seja, uma limitação natural de nossa ignorância, como pensou PLATÃO em seu mito da caverna, ou a eterna luta do ser humano para superar seus entraves mentais. Apesar de tudo isso, podemos constatar que a evolução da espécie humana é um fato reconhecido, pelo muito que será possível atingirmos, como um destino inexorável imposto a nós pelo Criador, que fez surgir todos esses desafios. Neste caso, as ciências experimentais têm-nos proporcionado perspectivas bastante sugestivas sobre uma sintonia fina existente entre as limitações naturais da matéria e o que se constata como verdadeiros milagres acontecidos na pré-formatação do Universo, sem os quais o mesmo não teria surgido como realidade. Refiro-me, em primeiro lugar, ao acontecimento do big-bang, fenômeno sugerido pelo padre LEMAITRE e hoje confirmado pelas observações científicas, segundo as quais o Universo é produto de uma explosão gigantesca de liberação de energia.

Outro fenômeno estranho são as peripécias na formatação dos átomos de carbono, dentro de limites estritos das possibilidades, que só poderiam ter acontecido pela presença de um Design Inteligente (agora mesmo, a sonda PHILAE, depois de viajar 510 milhões de kms, está fornecendo informações sobre os átomos primitivos de carbono). Similar a este, a constituição das proteínas de nosso DNA ou conformação de nossa herança genética, representa um verdadeiro caso de superposições estruturais, estranhas ao mundo da causalidade estrita, como testemunharam os cientistas do genoma humano (Cfr.O Código de Deus, de Gregg Braden. SP, Ed Cultrix, 2006).

Contudo, uma indicação concreta da espiritualidade natural, podemos encontrar na subjetividade do ser humano, dotado que é de criatividade, racionalidade, sentimento e liberdade, quatro das principais características que constituem sua inteligência, fator de consciência-de-si e autonomia de ser, concedendo-lhe os fatores principais que o fazem um ser livre no agir, mas responsável moralmente por tudo que pratica ou que descortina na grandiosidade do processo criador.

Ora, essas indicações não naturais do surgimento do Universo, constituem fator de fortes motivos de solidificação de nossa fé, superando o ateísmo primário dos que só enxergam o non-sense da existência. Em conclusão, temos conosco as infinitas potencialidades de nossa inteligência, só nos restando, como seres coerentes, aceitar o fato de que nossa vida tem um sentido, a melhoria constante das gerações que vão se sucedendo, o que implica uma atitude de contínuo agradecimento, por termos um dia passado pela história de nossa consciência, o maior dos milagres naturais.

Não obstante, vivemos ainda as eras primitivas de nossa conscientização como seres humanos dotados de espiritualidade, o que não deve ser fator de desânimo, cabendo-nos, pela intensidade de nossa fé, acreditar que o futuro da humanidade será promissor, vindo ela a ocupar todo o espaço sideral, até encontrar outras populações planetárias. Dessa forma, o Cristo Cósmico será uma realidade concreta, segundo a proposta de TEILHARD DE CHARDIN.